Mudar a forma de ensinar não significa melhorar o ensino. O importante é interligar a escola com toda a comunidade (pais, professores e alunos), para superar os desafios do futuro. A principal conclusão do colóquio “Escola, programas e metas” realizado na biblioteca da Escola Secundária José Falcão. Uma iniciativa da Associação de Pais e Encarregados de Educação e da direção da Escola Secundária José Falcão, que juntou Regina Rocha, Jaime Silva e Carlos Fiolhais na mesma mesa. Os três professores, foram desafiados a falar sobre as novas metas e os novos programas curriculares das disciplinas de língua portuguesa, matemática e física e química dos quais são coautores.
Regina Rocha, professora da Escola Secundária José Falcão é coautora do novo programa e metas de português do ensino secundário, salientou a importância das novas metas publicadas em 2012, considerando que são “documentos clarificadores das prioridades nos conteúdos fundamentais dos programas. Estão definidas por ano de escolaridade e contêm quatro domínios de referência no 1.º Ciclo e no 2.º (Oralidade, Leitura e Escrita, Educação Literária, Gramática) e cinco no 3.º (os mesmos, mas com separação dos domínios da Leitura e da Escrita). Em cada domínio, são indicados os objetivos pretendidos e respetivos descritores de desempenho dos alunos alcançando uma nova arrumação de alguns conteúdos, de modo a reforçar a coerência dos conteúdos de aprendizagem por ano e por ciclo”. Salientou ainda a importância da leitura logo no primeiro ano de escolaridade, “a criança tem que ter fluência na leitura, se soletrar não vai conseguir compreender tudo o resto, a fluência na leitura é a ponte para a compreensão”.
Jaime Silva, professor da Universidade de Coimbra, foi Secretário-Geral da Comissão Executiva do ICMI – International Commission on Mathematical Instruction (2010-2012), o único Português até hoje a assumir este cargo, é coautor dos atuais programas de matemática do ensino secundário, mostrou menos otimismo no futuro do ensino da matemática, referindo que é preciso introduzir mais objectividade. “A Educação é um processo complexo em Portugal, mas também nos outros países, não é uma ciência testada em laboratórios, é preciso o envolvimento de vários quadrantes que leve as pessoas a concluir que estamos no bom caminho. Não é um Governo chegar e impor leis sem que tenha havido um debate sério e com tempo. Tenho visitado muitos países onde colaborei e participei em conferências e experiências na matemática e não encontrei a aplicação de metas como em Portugal”. Acrescentou ainda que “as metas curriculares não se produzem à pressa, aconselhando a leitura atenta do relatório PISA. O especialista na Matemática mostrou-se ainda muito crítico quanto “à fé que os portugueses têm nas explicações”, “o apoio aos alunos por professores da própria turma é muito mais produtivo e importante”.
Carlos Fiolhais professor universitário e ensaísta português, um dos cientistas e divulgadores de ciência mais conhecidos em Portugal, coautor do novo programa e metas de física e química do ensino secundário, recordou os bons momentos passados na Escola Secundária José Falcão onde estudou em 1973. Direcionou a sua intervenção para a importância da Escola, não no aspecto físico das instalações, que agora na sua maioria no nosso país são muito boas, mas sim no que respeita ao que se ensina. Lembrando os últimos lugares dos rankings internacionais, referiu que em Portugal “falta escola e para termos mais escola e melhor escola a parte essencial são os professores. Melhor escola é onde houver melhores professores”. Disse ainda que “o curriculum não é o fundamental, mas sim a organização da escola, onde o problema nunca pode ser os alunos”. Partilhando um pouco dos anteriores oradores, defendeu não ser boa ideia a constante mudança de programas, apontando para o que acontece com a disciplina de Física, que manteve 85% dos programas anteriores”.
Foram duas horas e meia de muito interesse para as cerca de cinquenta pessoas presentes (professores, pais e encarregados de educação), que puderam intervir no debate.
Fica também como nota muito interessante o empenho da Escola, em particular da Dra. Ana Magalhães, que com quatro alunos do “Curso de Audiovisuais” fizeram o registo vídeo deste evento. O material produzido será utilizado nas aulas e a Associação de Pais conta poder vir a publica-lo, contribuindo-se assim para dar corpo a uma das teses proferidas: “O importante é interligar a escola com toda a comunidade”
H.A. 11-12-2013
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